segunda-feira, 7 de julho de 2008

Aquilo que ficou

Tenho saudades do tempo em que na ponta dos dedos dos pés suportava pouco mais do que os passos leves de uma dança ensaiada. Suportava a criança que era e os sonhos que pintei. Hoje, esqueci-me desses passos e resta apenas o eco dos sonhos pintados na realidade já vivida na criança transformada.
Pode ser que um dia me recorde do ritmo da música que dançava para que consiga reconstruir toda uma coreografia já apagada pelas marcas deixadas pelo tempo.

Faz-me acreditar

Faz-me acreditar que o tempo passa sem deixar mágoas no vazio da ausência dos segundos feridos pelas quedas na vida.
Faz-me acreditar que o vento voltará a soprar em cada manhã, mesmo que o calor o esconda por mais um dia, deixando a esperança no surgir do amanhã.
Faz-me acreditar que na ausência das palavras se revelam gestos ocultos que me fazem mover no borbulhar do esconderijo daquilo que julgo não existir.
Faz-me acreditar num novo brilho no olhar quando este enxugar as lágrimas um dia deixadas como lembrança de tempos vividos.
Faz-me acreditar em filosofias de vida que defendem vidas perfeitas na imperfeição que desenham.
Faz-me acreditar que és capaz de me fazer sorrir mais e mais todos os dias esquecendo aquilo que dói cá dentro.
Faz-me acreditar que é possível ser feliz na infelicidade de dias tristes e solitários apesar do tempo, do vento, da ausência das palavras, do brilho no olhar, das filosofias de vida e dos sorrisos esboçados... tudo porque te tenho a ti!

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Olhar vulgar

Olhos vulgares que não riem,
temem os dias,
anseiam os momentos,
e estremecem com o passar do tempo.
Olhos vulgares que escondem os sorrisos,
demonstram a saudade,
reflectem as mágoas
e encobrem as derrotas.
Olhos vulgares que tapam os risos
com uma manta de incerteza,
com a suavidade de um olhar preso
na certeza de uma vida.
Olhos vulgares aqueles que hoje tenho,
que não riem, que não brilham...
que se machucam no sal das lágrimas,
que esperam o clarear de mais um dia.
Olhos vulgares aqueles que se perdem no tempo
ao esperar por um sorriso, mesmo que inocente
para que voltem a sorrir
mesmo que no gracejar de um mero olhar.
Olhos vulgares os meus... que falam mesmo no silêncio de quem os sente.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Conversa de café


Sentada numa cadeira de café divago além dos olhares longínquos de quem alcança o horizonte por entre os cigarros apagados num cinzeiro escuro e sujo... Olho em volta e nada alcanço. Fumo, barulho, agitação, gestos banais, futilidades exibidas e conversas perdidas no ar escapam-me dos sentidos... refugio-me no canto das memórias e voo para lá das recordações.Sentada numa cadeira de café deixo cair uma lágrima que se mistura com as gotas de whisky derramadas sobre a mesa, misturo palavras nas beatas apagadas como se não fossem palavras minhas, perco no ar, no meio da azafama da multidão, tudo aquilo que um dia fui e anseio por uma noite diferente.Sentada numa cadeira de café perco-me nas lembranças que guardo, como se as procurasse dias a fio nas borras deixadas no fundo de uma chavena que ninguém quis beber e encontro reflectida na água cristalina, que paira algures na fonte do outro lado da rua, quem um dia fui. Encontro-me e vejo que não fui um dia, sou hoje e serei enquanto conseguir encontrar tudo aquilo que se encontra escondido no mais recondido lugar ou nos sentimentos mais dispersos que alguma vez existiram, mesmo que nos lugares mais comuns, mesmo que no meio de uma conversa de café.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Escrevo... revoltada


Escrevo em papel palavras lógicas, coerentes e teóricas, obrigam-me a dizer coisas acertadas, eficazes e científicas... cansada da perfeição do seguimento de uma história sem emoções procuro em mim uma escrita diferente. Troco a lógica e a coerência e procuro a prática na teoria, deixo de lado as palavras certas, eficazes e cientificas e rendo-me ao incerto, ao espontâneo e humano...
De que que vale tanta linearidade na escrita, tanta perfeição nas virgulas e tanto cuidado com os acentos de frases copiadas? Porquê que insistem numa perfeição inexistente em coisas tão simples como articular ideias e visões de autores que se dizem famosos? Porquê?
Quando é que se vão deixar de estereotipar a perfeição, de acreditar que ela existe e de criticar quem não a defende... Aposto na imperfeição das coisas ditas perfeitas, nos traços tortos e torcidos, nas palavras incoerentes e sentidas, nas emoções impossíveis de descrever mas eficazes ao viver... aposto na prática e critico a teoria pelo que idealiza e nada faz para acontecer, pelo que descreve e nunca viu, pelo que diz acontecer um dia como se já por lá tivesse passado...
Deixem-se de teorizar sobre perfeição, sobre rectas traçadas no vazio e sobre a luz que brilha na escuridão... deixem-se de certezas absolutas e procurem dúvidas...
Deixem-me ter "dúvidas", ser "louca", "imperfeita" e "revoltada", deixem-me sonhar porque aí sim há perfeição na imperfeição do inconsciente, na ilusão do imaginário e no vazio de uma memória ausente...
Deixem-me escrever linhas como estas, deixem-me viver e ser feliz!!!

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Escrita no ar


Escrevo no ar palavras soltas, leves, amargas e amarguradas
Escrevo no ar pensamentos tristes
Escrevo no ar a leveza das memórias, a profundidade dos sentidos e a imensidão das ilusões
Escrevo no ar cada gesto teu, cada suspiro profundo, cada olhar recondido
Escrevo no ar os medos de um abismo, os medos de sentir, os medos dos medos
Escrevo no ar os desejos de uma vida, as coisas perdidas e as saudades sentidas
Escrevo no ar tudo aquilo que sou...
...E traço cada sorriso na escuridão de mais um dia triste, só e solitário.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Conquista de pedra


Sento-me nesta pedra mais uma noite,cansada de um dia triste, solitário, frio, amargo e duro...
Fecho os olhos, penso, medito e reflicto sobre os reflexos de uma sombra negra. Chuto para longe a amargura da falsa coragem, o cinismo da falsa confiança e a imensidão de todo um borbulhar de sentimentos.
Escrevo frases soltas, tortas e torcidas num papel velho, amarrotado, gasto... gasto como as palavras que digo e que escrevo, gasto como as memórias que guardo...
Levanto-me desta pedra e olho em frente... deixo para trás a solidão, a tristeza, as derrotas e as batalhas... deixo para trás aquela pedra que transportei num passado e que hoje me serviu de conforto... deixo para trás todas as pedras que um dia transportei... deixo para trás tanta coisa... avanço e procuro a conquista.