sexta-feira, 4 de abril de 2008

Perfeito ou Imperfeito?


Pé ante pé subo os degraus deste prédio...
Dia longo, quente e comum
Levemente abro a porta desta casa,
uma casa vulgar, pequena, a minha casa.
Aquela casa que conta segredos, que guarda recordações,
aquela casa que te recebe sempre que vens,
aquela casa que será sempre a minha casa.
No meu quarto o escuro da noite não entra,
as paredes brancas transpiram a cor da paz,
uma paz escondida todos os dias por trás de lágrimas,
memórias, sentimentos tenebrosos e olhares tristes...
Até quando?
Anseio por uma noite melhor que a de ontem...
espero por um amanhã ideal...
Vindas dos sonhos pintados com as cores de uma vida perfeita
chegam as lágrimas da incompatibilidade da imperfeição da própria vida...
Deito-me na cama e penso...
Um dia, outro e outro...
Pensarei o mesmo amanhã?
Penso nas palavras crueis e nos olhares perdidos,
penso nos gestos falsos e nas imagens ocultas...
Penso também nos cheiros, nas formas e nas cores
daquilo que me enche, me preenche e me faz acreditar...
Apago a luz, viro-me para o lado e adormeço...
Cabeça deitada sobre a almofada de fronha branca,
molhada pelas lágrimas que suavemente deslizam pelo meu rosto,
sou levada para "outro mundo"... o mundo da perfeição,
mundo dos sonhos e das ilusões...
Aquele mundo onde só entra quem eu deixo,
em que as palavras são amáveis, os olhares certeiros,
os gestos verdadeiros e as imagens visíveis...
Percorro um caminho em tempo incerto...
sorrio sem dar conta, amo sem sentir e vivo sem viver...
Volto a voltar-me e volto a acordar...
Outra vez, mais uma vez de cabeça deitada sobre a almofada branca,
enxuta pelo calor das horas de uma noite passada, sou trazida para "este mundo"...
o mundo das imperfeições...
Acordo e penso...
"De que vale sorrir sem dar conta, amar sem sentir e viver sem viver?"
A resposta, essa... coitada anda perdida...
talvez a encontre um dia...
numa das gavetas de um dos armários desta casa,
ou dentro duma das portas fechadas deste quarto de paredes brancas...
Mas não valerá mais a pena viver sentindo no mundo das imperfeições do que não sentir a vida a passar ao sermos enganados por uma vida perfeita?
Será esta a resposta escondida?
Talvez não, quem sabe...
Até lá vou sonhando, transformando e vivendo no meu mundo...
o mundo das imperfeições sendo aperfeiçoado todos os dias com mais uma imperfeição...

1 comentário:

Catarina disse...

Sonhar é bom ;)
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